quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

ALGUMAS VERDADES SOBRE A MEMÓRIA

1. O estudo intercalado por períodos de descanso ajuda a memorização.

Para memorizar um dado ou um facto, procure voltar a ele repetidas vezes, em intervalos crescentes - um dia depois, uma semana depois, um mês ou vários depois.


2. As lembranças são mais facilmente recuperadas por associação.

Campeões de memorização associam as informações a palavras-chave ou imagens conhecidas. Por exemplo, para se lembrar do nome Julieta, pode associá-lo à personagem de Shakespeare.

3. Exercício físico é bom para a memória.

O volume de massa cinzenta em regiões do cérebro relacionadas com a memória aumenta com exercícios aeróbicos.

4. Excesso de informação prejudica a memorização.

Internet, telemóvel, televisão...O cérebro não tem tempo para processar a avalanche de informações da vida moderna.

5. Quem dorme bem, memoriza mais.
O sono - e os sonhos- tem um papel relevante na consolidação de memórias a longo prazo.

6. A obesidade prejudica a memória.


A gordura abdominal eleva os índices de insulina no organismo, afectando o funcionamento de determinados receptores no cérebro ligados à memória.

7. Diversão mantém a memória activa.

As actividades que exercitam a memória incluem jogos de cartas, xadrez, palavras cruzadas, tocar um instrumento musical, ler e manter uma vida social intensa.






Memória e esquecimento

A perda da capacidade de recordar ou de reproduzir o que foi aprendido designa-se por esquecimento. Acontecendo com todas as pessoas, o esquecimento é um fenómeno natural. Trata-se de um processo normal e positivo cuja função é seleccionar materiais inúteis que, ao serem perdidos, criam condições para novas aprendizagens e para uma superior adaptação ao meio.



Esquecimento regressivo

O esquecimento regressivo ocorre quando surgem dificuldades em reter novos materiais e em recordar conhecimentos, factos e nomes aprendidos recentemente. Este tipo de esquecimento é especialmente sentido por pessoas de certa idade e pode dever-se à degenerescência dos tecidos cerebrais.

Esquecimento motivado

Como o próprio termo deixa transparecer, o esquecimento motivado significa que esquecemos porque temos razões (estamos motivados) para esquecer, habitualmente porque uma recordação é desagradável e perturbadora.

Neste sentido, Freud apresentou uma concepção de esquecimento que decorre da sua teoria sobre o psiquismo humano, segundo a qual nós esquecemos o que, inconscientemente, nos convém esquecer. Este esquecimento resulta de um recalcamento, ou seja, é um modo inconsciente de as pessoas se libertarem de recordações perturbadoras. É o que acontece com o esquecimento de situações de medo, dor ou angústia vividas pelo indivíduo.

Interferência das aprendizagens

A interferência é um fenómeno que ocorre quando ao tentarmos recordar algo, uma informação gravada antes (interferência proactiva) ou depois (interferência retroactiva) da que tentamos recuperar impede o acesso a esta. Segundo esta explicação, o esquecimento não significa que a recordação de algo desapareceu, mas sim que outro conteúdo mnésico semelhante ao que tentamos recuperar provocou uma confusão entre elementos informativos, tornando-se assim um obstáculo à reactualização da informação pretendida.

Dois exemplos:

- Um turista francês na sua primeira viagem a Nova Iorque prepara-se para tomar um duche. Roda a torneira com a letra C e, como é óbvio, sai água fria. Ora, o recepcionista tinha-lhe dito que C era a sigla de “Cold” (frio). Contudo, este conhecimento recente foi perturbado por uma aprendizagem anterior que “tomou a dianteira” e, interpondo-se, provocou uma confusão (C em francês e nos hotéis franceses, mais precisamente nas suas casa de banho, é a sigla para designar “chaud”, quente).

- Fixado um novo número de telefone ou de cartão de crédito, temos dificuldade em relembrar o anterior.

Memórias

Actualmente, apesar de não haver ideias muito seguras sobre o assunto, fala-se de dois grandes sistemas de memória: memória a curto prazo e memória a longo prazo. Cada um destes sistemas tem divisões.
Memória a curto prazo

A memória a curto prazo é um sistema temporário de armazenamento da informação, podendo esta ser esquecida ou guardada num sistema (um “armazém” de grande capacidade e durabilidade) que a torne potencialmente permanente.

Há duas grandes componentes da memória a curto prazo: a memória imediata e a memória de trabalho.

A primeira é uma forma de memória com fraca capacidade de armazenamento e de reduzida durabilidade. Na verdade, é um “armazém” de capacidade limitada (capta de cada vez mais ou menos sete itens ou peças de informação) que consegue manter a informação captada (sem repetição) durante 20 a 30 segundos.

A memória de trabalho é uma forma de memória caracterizada por ser um espaço activo de trabalho onde a informação está acessível para uso temporário. É com ela que trabalhamos sempre que conversamos ou realizamos uma tarefa. Tal como uma secretária é uma área de trabalho onde utilizamos determinados materiais (caneta, caderno, livros, etc.), a memória de trabalho é a área onde se actualizam e são utilizados os conteúdos mnésicos necessários em dados momentos.

Memória a longo prazo

Tipo de memória relativamente permanente na qual a informação é armazenada para posterior utilização. Segundo os estudiosos, tem a capacidade de armazenar enormes quantidades de informação durante longos períodos de tempo (em muitos casos durante a vida inteira).

A memória a longo prazo é um sistema que se divide em dois subsistemas: a memória não declarativa e a memória declarativa.

A primeira é um tipo de memória a longo prazo que guarda as informações adquiridas de como saber fazer as coisas ou como efectuar procedimentos motores. Estas aptidões são adquiridas mediante a prática e incluem actos como comer com faca e garfo, guiar um automóvel, andar de bicicleta, a cavalo, tocar piano, escovar os dentes, etc.

A memória declarativa é um tipo de memória a longo prazo que armazena factos, informações gerais e episódios ou acontecimentos pessoais. Por isso, a memória declarativa subdivide-se em memória episódica e memória semântica.

A memória episódica é a subdivisão da memória declarativa que contém a memória de eventos ou episódios que vivemos pessoalmente. É uma memória autobiográfica que armazena ou grava, como se fosse um diário mental, os episódios mais ou menos significativos da nossa vida. Dito de outro modo, permite-nos saber quando e onde um evento ou episódio das nossas vidas aconteceu. Com base na memória episódica, podemos então declarar que estivemos em Pequim por altura dos Jogos Olímpicos, que começámos a estudar Inglês no 2º Ciclo, que aprendemos a conduzir um automóvel aos 18 anos, que já contraímos sarampo e varicela quando frequentávamos o último ano do 1º Ciclo, quando demos o primeiro beijo, uma determinada festa de aniversário, uma viagem de férias, o nascimento de um filho, que filme vimos a semana passada, etc.

Por fim, a memória semântica é a subdivisão da memória declarativa especializada no armazenamento de conhecimentos gerais, tais como regras, conceitos, normas e leis. Enquanto a memória episódica é uma espécie de diário mental autobiográfico, a memória semântica é a nossa enciclopédia e dicionário mental. Com base na memória semântica, podemos declarar qual a capital da Rússia, os nomes dos meses, fórmulas químicas, a tabuada, significados de palavras, regras gramaticais, estratégias para resolver problemas, etc.

MEMÓRIA



A memória é o processo de recordar conteúdos aprendidos que foram armazenados para serem utilizados em momentos posteriores. É graças à memória que se retém tudo o que se aprendeu. Ela influi no comportamento, pois a nossa adaptação depende daquilo que se aprendeu e não daquilo que se herdou. A memória permite-nos ainda reconhecer as nossas experiências pessoais, cuja influência se faz notar na construção da identidade pessoal e nas significações que atribuímos àquilo que nos rodeia.
É com a memória que conservamos o que aprendemos, pelo que, sem ela, a aprendizagem estaria sempre no início e o ser humano não poderia adaptar-se ao meio. O que se aprende, uma vez retido na memória a longo prazo, fica disponível para utilizações posteriores. Sem memória, perdemos a noção do que somos e dos contextos a que pertencemos. Sem memória, não conseguimos aprender nem atribuir significado às experiências que vivemos.

Processos da memória

Os momentos essenciais da memória são:
1 – recepção/codificação da informação sensorial;
2 – armazenamento da informação;
3 – recuperação/utilização da informação no processo de interpretação e acção sobre o meio.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

O HOMEM COM DEMASIADA MEMÓRIA

É impossível guardar toda a informação que recebemos e não seria desejável que mantivéssemos toda a informação que conseguimos codificar e receber. Esquecer é importante: a sobrecarga mnésica – tipo homem que nunca esquece quase nada – transformaria a vida num fardo insuportável, tornando-nos escravos dos factos e dos dados.

 
Para o provar, eis a verdadeira história de S. (na realidade o russo Cherechevski), o homem com demasiada memória.

“Ao contrário de outros repórteres, S. nunca tomava notas quando ouvia o seu editor dar instruções detalhadas. Exasperado pelo que pensou ser falta de atenção da parte de S., o editor desafiou o seu profissionalismo. Mas ficou espantado quando S. reportou não só os detalhes das suas instruções para a sua própria tarefa, como também os detalhes de instruções dadas aos outros. S. também estava surpreendido. Pensava que a memória de todas as pessoas funcionava da mesma maneira e, até esse momento, nunca tinha pensado em si mesmo como diferente ou especial.

O psicólogo russo Alexander Luria estudou o caso de S, cuja imaginação visual única lhe permitiu lembrar-se de uma extraordinária quantidade de detalhes. Luria conheceu S. em 1920 na Rússia. Começou com algumas experiências simples para testar a memória de S. pedindo-lhe para se lembrar de séries de palavras, o método padrão para testar a capacidade de memorização. Luria concluiu que a memória de S. aparentava não ter limites. Em tais testes a maioria das pessoas lembrar-se-iam, no melhor dos casos, de 5 a 9 números. S. não só era capaz de se lembrar de 70 números, mas podia também dizê-los correctamente na ordem inversa. S. também podia relatar a sequência sem falhas e sem aviso ou prática – mesmo 15 anos após o seu contacto original com a sequência! Mais ainda, S. podia descrever o que Luria tinha vestido e onde esteve sentado enquanto aprendia a lista original. Façanhas de memorização semelhantes incluíram a reprodução exacta de textos de línguas que não conhecia, depois de ter ouvido a passagem uma única vez.

Como pôde S. realizar tais proezas? Desde que cada número ou palavra fosse enunciada lentamente, S. podia representá-la como uma imagem visual que tinha sentido para si. Essas imagens eram duráveis – S. lembrava-se facilmente da imagem que tinha criado para cada sequência muito tempo depois de ter aprendido esta. Para apagar uma imagem, ele realizava um ritual misterioso e específico.

Pode-se pensar que as capacidades de S. seriam muito práticas, mas via nelas, muitas vezes, uma séria contrariedade. Mudava de emprego para emprego, sentindo-se muitas vezes sobrecarregado pela quantidade de detalhes que automaticamente o envolviam em cada uma das suas tarefas. A sua tendência para criar imagens visuais interferia com o processamento normal da informação. Tinha dificuldades em compreender todas as passagens de um texto porque se atrapalhava nos seus detalhes. Para um observador casual, S. parecia ser desorganizado e algo tolo – uma pessoa que falava demais e que estragava qualquer conversa social descrevendo imagens que surgiam sem nexo na sua mente. Por ironia, tinha uma memória muito pobre para factos, achando-os demasiado flexíveis e fluidos para serem recordados. Pior ainda, sentia-se como sendo duas pessoas. Descrevia-se a si mesmo como «eu» quando controlava a sua memória e como «ele» quando a sua imaginação lhe escapava. Luria concluiu que S. tinha dificuldades em saber qual o aspecto mais

Pode-se pensar que as capacidades de S. seriam muito práticas, mas via nelas, muitas vezes, uma séria contrariedade. Mudava de emprego para emprego, sentindo-se muitas vezes sobrecarregado pela quantidade de detalhes que automaticamente o envolviam em cada uma das suas tarefas. A sua tendência para criar imagens visuais interferia com o processamento normal da informação. Tinha dificuldades em compreender todas as passagens de um texto porque se atrapalhava nos seus detalhes. Para um observador casual, S. parecia ser desorganizado e algo tolo – uma pessoa que falava demais e que estragava qualquer conversa social descrevendo imagens que surgiam sem nexo na sua mente. Por ironia, tinha uma memória muito pobre para factos, achando-os demasiado flexíveis e fluidos para serem recordados. Pior ainda, sentia-se como sendo duas pessoas. Descrevia-se a si mesmo como «eu» quando controlava a sua memória e como «ele» quando a sua imaginação lhe escapava. Luria concluiu que S. tinha dificuldades em saber qual o aspecto mais real da sua vida: «o mundo da imaginação no qual vivia, ou o mundo da realidade no qual era apenas convidado temporário»”.
RODRIGUES, Luis, Psicologia 12º ano, vol. 1, Plátano Editora

ATENÇÃO: PPT DA MEMÓRIA E ESQUECIMENTO

Encontra-se disponível em "documentos para download" uma apresentação sobre o tema a memória. Poderás também visualizar aqui

ATENÇÃO: ficha de verificação de conhecimentos

Resolve aqui a Ficha de Escolha Múltipla para verificação de conhecimentos sobre a "A Aprendizagem"

Acede aqui

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Breve análise do "Menino Selvagem"

“Será preciso admitir que os homens não são homens fora do ambiente social, visto que aquilo que consideramos ser próprio deles, como o riso ou o sorriso, jamais ilumina o rosto das crianças isoladas.”


Lucien Malson "Les enfants Sauvages"

 O filme “L’Enfant Sauvage d’Averyon” (O Menino Selvagem de Averyon), de François Truffaut (realizador e actor - Dr. Itard), é baseado num caso verídico e relata a história de uma criança de onze ou doze anos que foi capturada num bosque por caçadores, tendo vivido afastado da sua espécie, por abandono dos pais. Esta criança despertou então grande interesse no médico Dr. Jean Itard, que pretendia estudar o processo de integração daquele menino que por tantos anos teria vivido como um selvagem.

Embora se pense que o menino selvagem tenha sido abandonado no bosque quando tinha quatro ou cinco anos, altura em que já deveria dispor de algumas ideias e palavras, em consequência do começo da sua educação, tudo isso se lhe apagou da memória devido a cerca de sete anos de isolamento. Quando foi capturado, andava como um quadrúpede, tinha hábitos anti-sociais, órgãos pouco flexíveis e a sensibilidade embotada, não falava, não se interessava por nada e a sua face não mostrava qualquer tipo de sensibilidade a ruídos bruscos que não conhecia, como o bater de uma porta. Toda a sua existência se resumia a uma vida puramente animal.


Assim, o seu isolamento passado condicionou a sua aprendizagem futura que, além do mais, deveria ter sido realizada durante a sua infância (época em que o seu cérebro apresentaria mais plasticidade, existindo uma facilidade de aprendizagem, socialização e interiorização dos comportamentos característicos da sua cultura). Deste modo, a criança misteriosa que tanto causava furor na sociedade civilizada, tinha não só tinha que lutar contra o seu passado, como contra a idade avançada para uma aprendizagem, muito provavelmente, sua desconhecida, sendo esta a razão porque, segundo Dr. Itard, “para ser julgado racionalmente, (o menino selvagem de Averyon) só pode ser comparado a ele próprio”.
Ainda assim com muito esforço, tanto por parte do menino selvagem como do Dr. Jean Itard, Victor (nome pelo qual foi baptizado) consegue por fim cumprir hábitos sociais, como comer com talheres, viver consoante regras e deveres, dar o devido uso à roupa… Aprendeu também a desenvolver afectividade, o que foi considerado um grande progresso. Tornou-se sensível às temperaturas extremas, espirrou pela primeira vez, chorou e até mesmo desenvolveu espírito de justiça (o que o tornou verdadeiramente um Homem). À medida que esta afectividade se foi desenvolvendo entre o menino e o Dr. Itard ou a Mme. Guérin (ama que cuidava da criança, por pela qual desenvolveu um grande afecto), a aprendizagem vai-se tornando mais fácil (note-se que os factores psicológicos são bastante influenciáveis). Por último, como já foi referido, os factores socioculturais também influenciam as nossas acções pois, ao estarmos inseridos numa sociedade, as nossas acções e comportamentos são influenciados por ela, como se verificou com a socialização do menino selvagem, que teve de se sujeitar a regras e a deveres morais.
Contudo, e apesar de todos os progressos, a linguagem foi algo que não conseguiu adquirir. Victor conseguiu pronunciar a palavra “lait” (leite) e até mesmo escrevê-la, mas não foi dada muita importância a esta aprendizagem uma vez que não era utilizada para mostrar uma necessidade, mas sim uma espécie de exercício preliminar, que precedia espontaneamente à satisfação dos seus apetites. Podemos então concluir deste clássico de grande sucesso em todo o mundo, que é necessário “admitir que os homens não são homens fora do ambiente social” (Lucien Malson) e que necessitam, mais do que os outros animais, da vivência junto da espécie.

O que é a psicologia